Renan Baldi
3 min readDec 6, 2018

A verdade é que eu nunca fui bom com mulheres.

A verdade é que eu nunca fui bom com mulheres. Nunca gostei muito da lógica estabelecida de que o homem deveria chegar na mulher, e para a mulher restaria demonstrar interesse não verbal e torcer para que o cara venha falar com ela.

Não vou fingir que no início da adolescência eu ligava para o fato de que muitas vezes as mulheres sequer queriam ou estavam disponíveis para ser abordadas. Mas eu aprendi que parte do meu incômodo era justamente por perceber o desinteresse da outra parte.

E lá estou eu, em pleno 2018, numa festa com meus primos e irmã. Desde que coloquei os pés dentro do lugar, ouço que essa era a noite que eu ia beijar umas meninas, e que eu tinha que escolher um alvo, era para isso que eu estava lá. Era o que esperavam de mim. Acabou sendo uma decepção para eles o fato de eu estar bem pouco disposto a gastar minha noite buscando essa façanha, ainda que tenha me esforçado mais para alcançar esse fim do que estava afim por pura pressão. Sim, cheguei em garotas que não estava tão afim assim de chegar (tomando um fora), simplesmente para cumprir uma expectativa que veio de fora. E não, eu não me orgulho disso.

Eu não consigo entender essa mentalidade de caçada, onde eu devo andar pelo salão procurando um “alvo”, e chegar junto. E pior, como uma caçada, se você termina o dia sem nenhum “abate”, você é um perdedor. Aparentemente o rolê só vale a pena caso eu termine a noite com resultados numéricos para ostentar. Todo o resto, se eu me diverti, se não passei mal de tanto beber, se achei a música boa, etc. fica em segundo plano.

Acho que no fundo esse tipo de coisa é reverberação do machismo e da construção da masculinidade. O mesmo tipo de lógica que diz que homem de verdade não pode negar sexo e mais uma série de coisas que constrói o homem como o ‘comedor’.

Por outro lado, eu ainda tenho uma dificuldade enorme de lidar com a rejeição. Essa falta de disposição para entrar no jogo teve a consequência de não aprender bem a perder dentro das regras. Quando eu tomo um fora, mesmo em casos em que só chego em moças desconhecidas em rolês, eu logicamente respeito a decisão da mulher e me afasto, mas por dentro eu me quebro. Eu sofro mais do que deveria. Derruba minha auto estima ao quarto círculo do inferno.

Tem dia que isso cai bem, principalmente quando estou com amigos que ajudam a desconstruir essa ideia, e não têm essa pressão. Mas os grupos que a gente faz parte molda algumas reações que a gente vai ter. Isso não é falta de personalidade, nem passar pano, é simplesmente como o ser humano funciona.

E claro que no mundo ideal seria fácil explicar para os meus primos que eu acho essa relação problemática, e que gostaria de resolver essas questões no meu tempo. Mas na realidade, no momento, com a luz apagada, a música alta e o álcool na cabeça, é mais difícil. E essas coisas vão se perpetuando e machucando.

Enfim, acho que antes de acabar esse texto, eu devo deixar claro que tenho consciência que isso que aponto como problema é muito um problema do alto do meu privilégio enquanto homem, e que não chega nem perto do problema que as mulheres passam nesses mesmos espaços, mas eu estou falando de como são colocadas as regras do jogo, que no fim não tem vendedor.

Renan Baldi
Renan Baldi

Written by Renan Baldi

Estudante de midialogia, apaixonado por histórias que me fazem sentir algo.

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