Baldi nel mondo — Uma jornada ancorada no sobrenome
Um certo dia no ano passado, recebi uma solicitação de amizade no Facebook, de uma pessoa chamada Raffaele Baldi. Entrando no perfil, pude ver que era um senhor italiano que não tinha quase nada em comum comigo: não compartilhava sequer um amigo, não falava minha língua, não frequentava os mesmos lugares, e só viu os mesmos filmes que eu porque alguns filmes são clássicos praticamente universais. Apesar disso, me intrigou o motivo de alguém que compartilhava nada mais que o sobrenome comigo me adicionar na rede social, e aceitei.
Poucas horas depois, compreendi o motivo: Eu havia sido adicionado em um grupo chamado Baldi nel mondo. E foi uma das coisas mais inusitadas e divertidas que já me aconteceram na rede social.
O Facebook, com sua popularização, acabou tornando a timeline principal algo bem mais genérico e impessoal. Ainda que essa discussão seja bem mais longa, e envolva algoritmos, a formação de bolhas, e questões relacionadas à ética e o uso de informações, onde quero chegar, é que os grupos se tornaram espaços bastante distintos dentro da rede. O feed do grupo é diferente da timeline pessoal porque reúne publicações e pessoas já com o filtro do interesse. Pessoas criam e frequentam os grupos por afinidade pelos interesses compartilhados entre seus membros. Mas qual o interesse em comum de um grupo que reúne apenas pessoas por seu sobrenome?
Bom, a graça para mim é ficar entrando nos perfis de meus “familiares” e imaginar as diferentes histórias de vida dessas pessoas. Através de seus perfis, pude fazer uma volta ao mundo bem mais real que qualquer filme. As fotos que essas pessoas publicam, os lugares que frequentam, as roupas que vestem, me trazem um sentimento de que eu poderia estar vivendo de tantas outras formas diferentes se lá atrás, meus bisavós tivessem acabado imigrando para outro país para que não o Brasil.
Acredito que grande parte dessas pessoas não tenha exatamente uma origem próxima, e podem nem fazer parte oficialmente da família, pois o mesmo sobrenome pode vir de diferentes origens. Ainda assim, não tem como não se sentir parte da família quando aparece no seu feed imagens como essa, em italiano.