Eu, parado no bailão
Eis que na virada do ano meu primo me chama para depois de ver os fogos com a família, colar em um tradicional rolê de rua, na minha cidade.
Era um tradicional rolezinho, ou seja, sem nenhuma organização formal, palco, nada dessas coisas. Era apenas as pessoas colando na rua e se reunindo.
Chegamos lá por volta de 3 da manhã. Foi aí que eu, entusiasta da cultura de periferia, tive um choque de realidade. Eu não conheço nada dessa cultura, sou quase um forasteiro.
A primeira coisa que notei era o som ao redor. Eu esperava que o som predominante seriam músicas de funk dos sons dos carros no último volume, mas não era. O som predominante eram das motos acelerando e cortando giro. Era clara a satisfação dos meninos (a grande maioria nas motos) andando de moto sem capacete e chamando atenção no baile. Aparentemente chegar de moto era o maximo status que podia se chegar no rolê.
A segunda coisa que me chamou a atenção era o uso de drogas. A molecada pira no lança. E a venda também acontece meio sem pudores, não é difícil achar alguém oferecendo.
Finalmente, a terceira coisa que quebrou minhas expectativas era a música. Eu curto ouvir funk, e estou sempre por dentro das novidades que chegam no Spotify e YouTube. Ainda assim, mesmo com todos os carros tocando funk, eu não conhecia nenhuma música que tocava. As letras e as batidas eram mais sujas e mais roots.
Minha reação dentro do baile honestamente foi medo. Eu fiquei com um desconforto, uma sensação de que a qualquer momento ia dar merda. Eu me senti inseguro.
No fim, não deu nada errado. No máximo, uma briga ou outra, mas isso acontece em qualquer lugar que reúne pessoas. Inclusive vi vários caras se abraçando, sendo legais, confraternizando.
Enfim, minha reação diz muito mais sobre mim do que sobre o baile. Escancarou uma porrada de preconceitos meus.
Me mostrou que eu sou tão pouco parte dos rolês de quebrada quanto dos rolês de rico.
A periferia tem uma cultura própria, uma lógica própria. E a verdade é que eu pouco entendo, primeiro por não ter contato e segundo por não fazer parte. Assistir os clipes do KondZilla está muito longe de fazer entender toda essa lógica.
Ficou ainda mais ridículo ver gente rica falando que é de quebra. E mostrou que eu ainda tenho muito preconceito pra quebrar. No mais, vida longa aos bailes e muita festa pra periferia!