O melhor que vi na TV em 2023

Renan Baldi
10 min readDec 31, 2023

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Mesmo em um ano em que a greve dos roteiristas afetou bastante as produções de séries, o volume de lançamentos das emissoras e streamings ainda foi gigantesco.

Eu não tive como assistir tudo que foi lançado, mas vou deixar aqui meu comentário sobre tudo que vi na TV em 2023.

The last of us

Em janeiro, dez anos depois do lançamento do aclamado jogo, estreou pela HBO a adaptação de The last of us, protagonizado pela dupla Pedro Pascal e Bella Ramsey.

Mesmo antes do lançamento, The last of us trazia consigo uma expectativa gigante. Por um lado, The Walking Dead já havia esgotado o tema de pós-apocalipse e zumbis, o que tornaria difícil inovar e não ser cansativo. Por outro, os fãs do jogo esperavam uma fidelidade à obra original, que é muito difícil quando se trata de uma adaptação para uma mídia diferente.

O resultado foi bem positivo. As mudanças no enredo e na forma de contar a história quase sempre deixaram a série mais rica aprofundou personagens com menos destaques no jogo. A série optou pelo drama e um ritmo um pouco mais lento, diminuindo as cenas de ação do jogo.

Isso resultou em uma série com atuações bem encaixadas, uma fotografia bonita e um resultado satisfatório. Não chega a fazer história na televisão, mas agrada o público.

The White Lotus — Segunda temporada

A segunda temporada de White Lotus, a “antologia” da HBO que segue as peripécias dos funcionários e hospedes de um hotel estreou no final de 2022, mas fui assistir apenas em 2023.

Depois de uma primeira temporada muito boa, a segunda temporada traz novos personagens e um novo cenário: Sicícia, na Itália.

Assim como a primeira temporada, a nova temporada começa tímida, apresentando aos poucos os hospedes e seus conflitos. O cenário que parece saído de um catálogo de agência de viagens, em oposição ao tom satírico e os dramas de personagens que parecem dispostos a buscar problemas resulta em uma temporada deliciosa de assistir.

The White Lotus parece fazer parte de uma tendência nas produções mais recentes, de trazer uma série de personagens ricos detestáveis, e divertir o público mostrando suas contradições, seus conflitos, e sua inocência quase infantil.

O destaque da temporada é a personagem da Aubrey Plaza, além da personagem da Jennifer Coolidge, que já havia brilhado na primeira temporada.

Cidade Invisível — Segunda temporada

Cidade Invisível, a produção brasileira que apresenta um enredo onde criaturas do folclore nacional habitam entre nós, volta para a segunda temporada.

A proposta é de empolgar, e sou bastante favorável a iniciativas desse tipo. A segunda temporada parece ter trabalhado para melhorar alguns pontos que foram alvos de crítica na primeira, como trazer personagens indígenas, e explorar diferentes regiões do Brasil, mas parece ter ainda muitos problemas.

O maior problema é o roteiro confuso e fraco. Os personagens são apresentados, mas são muito pouco desenvolvidos. O clima de mistério e investigação da primeira temporada é substituído por um foco maior na relação de Eric, personagem de Marcos Pigossi, e sua filha Luna, interpretada por Manu Dieguez.

Cidade invisível apresenta um discurso ambiental importante, e tenta promover a cultura brasileira, mas sinto que ainda não chegou lá. A segunda temporada é fraca, e talvez tenha poucas chances de continuação.

Beef (Treta)

Beef é uma minissérie produzida pela A24 para a Netflix narra a Treta entre Danny Cho, interpretado pelo Steven Yeun, e Amy Lau, interpretada por Ali Wong (̶A̶ ̶m̶o̶ç̶a̶ ̶d̶a̶ ̶S̶a̶r̶a̶).

O que começa como uma briga de trânsito escala gradativamente aos níveis absurdos, em doses alternadas de humor e drama psicológico das mais deliciosas.

A série é curta, fácil de assistir, e consegue entregar personagens complexos e um surpreendentemente aprofundamento de algumas questões. No fim, a série é mais sobre questões mais resolvidas em si do que sobre o ódio alimentado pelo outro.

O principal ponto positivo de Beef é a originalidade, e com certeza foi uma das surpresas do ano.

Succession

Eu não havia assistido nada de Succession até a estreia da quarta temporada. Eu sabia apenas que se tratava e uma série sobre uma família bilionária brigando pelo poder.

Quando comecei a primeira temporada, o ritmo arrastado quase me fez desistir de continuar, mas insisti um pouco, e que bom!

Succession é sem dúvidas a melhor série do ano, e como vi tudo de uma vez, posso dizer que a cada temporada, a qualidade só aumentou. É uma série que terminou em seu ponto mais alto.

Ao mesmo tempo que o enredo mais lento dá a impressão de que nada acontece, a cada episódio, de maneira sutil, a série explora relações de poder, relações familiares e nuances muito profundas sobre cada personagem. Cada elemento de cenografia, fotografia e principalmente figurinos, nos ajuda a entender um pouco mais sobre a realidade que a série nos apresenta.

A forma que a série é filmada, com a câmera passeando pelos ambientes de maneira quase delirante, coloca o público como um espectador que assiste aos acontecimentos de fora. Aqui, a tradição do teatro filmado dá uma liberdade para os atores que resulta em uma qualidade de atuação absurda. Realmente, Succession é uma aula de televisão, e uma das melhores séries da década.

The Marvelous Mrs. Maisel — Quinta temporada

Depois de quatro temporadas, a série já demonstrava claros sinais de esgotamento. As personagens e o elenco incrível já não conseguiam segurar um enredo um tanto repetitivo.

Ainda assim, a quinta temporada trouxe alguns dos melhores momentos de comédia do ano, e deu um desfecho bastante satisfatório para a série.

A escolha de trazer saltos temporais para mostrar o futuro de cada personagem não funcionou muito bem, exceto no episódio focado em Suzie, um dos melhores de toda a série.

Ao mesmo tempo que é uma despedida de uma série querida, a decisão de encerrá-la é um alívio.

Eu nunca — Quarta temporada

A série adolescente de comédia romântica da Netflix chegou a sua última temporada.

Depois de uma excelente terceira temporada, a série também mostrou claros sinais de cansaço. Algumas opções narrativas para manter personagens, e o envelhecimento muito aparente na fisionomia de todo o elenco tornou essa a temporada menos convincente da série toda.

Mas se tratando de uma série despretensiosa e bobinha, voltada para um público mais adolescente, é uma finalização honesta.

Black Mirror — Sexta Temporada

A polêmica nova temporada de Black Mirror chegou à ̶S̶t̶r̶e̶a̶m̶b̶e̶r̶r̶y̶ Netflix em Junho. Como uma antologia, é difícil falar da temporada como um todo sem falar de cada episódio particularmente.

Concordo com quem diz que Black Mirror se tornou um formato um pouco ultrapassado, principalmente quando a realidade é mais distópica que a própria distopia.

A escolha de trazer o sobrenatural no lugar na tecnologia em alguns episódios não me agradou. O interesse do showrunner de expandir os limites da antologia soou para mim como uma perda de foco da série.

Fora isso, as críticas ao sistema de streaming e a forma de produção que a série traz se torna um tanto cínica e superficial quando exibidas em um canal como a Netflix.

Cooked

A série documental da Netflix de 2016, baseada no livro de Michael Pollan explora o alimento em suas funções nutritivas, culturais e sociais.

O fator humano e de conexão em torno do alimento é o tema central da série. Por isso, é um dos trabalhos que mais me agrada quando se trata de produção de documentário. Explorar a importância de um tema tão presente na vida cotidiana por um viés mais profundo.

The Bear

E falando em alimentação, assisti as duas temporadas de The Bear (O urso).

The Bear é o tipo de série que me faz ser tão exigente com outras séries. Em vez de focar em um enredo mirabolante, a série trabalha com o cotidiano de um restaurante quase falido.

O que faz The Bear tão boa não é o tema em si, mas a forma como ele é trabalhado. Aqui, a técnica narrativa “Show, don’t tell” é usada de maneira brilhante. O desenvolvimento dos personagens parece acontecer durante a ação, e é apresentado através de suas atitudes.

Por não se prender ao enredo, The Bear permite utilizar o seu tempo de tela para experimentação, focar em personagens específicos, ou criar um verdadeiro caos em tela. A forma que a série consegue criar uma tensão crescente é invejável. Com certeza, The Bear seria a série do ano para mim, se Succession não tivesse levado o troféu.

Sintonia — Quarta Temporada

Sintonia, a série produzida pelo Kondzilla para a Netflix, chegou à sua quarta temporada.

A nova temporada parece ter conseguido dar um destino melhor para a personagem Rita, que parecia um pouco perdida nas temporadas anteriores. Outro destaque é a atuação da Julia Yamaguchi como Scheyla. A personagem ganhou mais espaço nessa temporada, foi o ponto alto.

Depois de quatro temporadas, a série já demonstra sinais de esgotamento, e tudo indica o desfecho na próxima temporada. É bom ver séries nacionais conseguindo alcançar o público para diversas temporadas, e em geral a série faz um bom trabalho.

Não sei se a séria acertou a mão na linguagem, mas o uso de gírias, que me incomodou muito no início da série, me pareceu menos forçado nas últimas temporadas.

Na mira do júri

Na mira do júri é a melhor comédia do ano. A série se trata de uma grande pegadinha com Ronald Gladden, que acredita ter sido convocado para participar de um júri. Acontece que todos os participantes do júri, do juíz ao acusado, são atores, exceto o próprio Ronald.

A partir disso, todos passam a agir das maneiras mais estranhas possíveis, criando situações completamente constrangedoras, no melhor estilo The Office, e gerando em Ronald as reações mais inesperadas.

A série poderia ser um fracasso, mas o carisma de Ronald nos convence de que não teria outra pessoa melhor para participar da série. A série é criativa, engraçada, e leve. Eu recomendo a todos, mas especialmente para fãs de humor no estilo The Office.

Heartstopper — Segunda temporada

A segunda temporada de Heartstopper deu continuidade à história da primeira temporada.

O ritmo leve e a fotografia clara e com tons pastel se repetem nessa temporada. Foi uma temporada boa, mas um pouco menos empolgante que a primeira.

Acredito que a série pesou muito a mão em reforçar as personalidades de alguns personagens, principalmente os secundários, o que tornou alguns personagens muito planos. O personagem Isaac, cuja personalidade grande parte da temporada foi “gostar de ler”, foi o que mais me incomodou.

Fora isso, a série é leve, fácil de assistir, e um bom passatempo.

One Piece

Assim como The Last of Us, a adaptação em Live Action de One Piece tinha uma missão muito difícil. Trazer um mundo fantasioso e caricato do anime e mangá para uma produção com atores de verdade tinha tudo para dar errado… E não deu!

A adaptação conseguiu trazer o mais importante da obra original, que é a vibe e estilo. A série serviu como porta de entrada para muitos novos fãs, que tinham resistência a ver 1000 episódios do anime, e ao mesmo tempo conseguiu agradar os fãs.

Os atores pareciam se divertir enquanto faziam seus papéis, e a produção conseguiu não se levar muito a sério. One Piece é um acerto, e uma excelente sinalização para o mercado de como as adaptações de mangás devem ser feitas daqui pra frente.

Loki — Segunda temporada

A segunda temporada de Loki começou do ponto onde a primeira encerrou.

Foi uma temporada confusa e arrastada, com alguns momentos bons, no meio de vários momentos de “humor marvel”, que já estamos cansados.

Os últimos episódios deram um desfecho satisfatório para o arco do Loki, mas a temporada como um todo não de destaca nem entre as produções do MCU, menos ainda no panorama geral de séries.

Scott Pilgrim Takes Off

Para encerrar, assisti a série de animação baseada em Scott Pilgrim. Comecei a assistir esperando uma nova versão da mesma história dos quadrinhos e dos filmes, mas fui surpreendido.

A série traz uma nova leitura dos mesmos personagens, mas propõe uma história totalmente inédita. O humor típico de Bryan Lee O’Malley está presente na série, assim como seu estilo de animação. Assim como em One Piece, é possível ver a mão do autor da obra original na produção, e como isso faz diferença no produto final.

Não recomendo a série como entrada no universo de Scott Pilgrim, já que a série traz piadase referências aos quadrinhos, mas recomendo muito ver a série depois de ter visto ao menos o filme “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, de 2010. A série é divertida, engraçada, e uma homenagem caprichada aos quadrinhos e ao filme.

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Renan Baldi
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Written by Renan Baldi

Estudante de midialogia, apaixonado por histórias que me fazem sentir algo.

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